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28 mar 2024

A arte de aborrecer platéias

Virou moda. De uns tempos para cá, para melhorar o resultado de suas apresentações, alguns palestrantes resolveram pôr em prática os “modernos” conceitos da interatividade. Só que na cabeça deles ser interativo é ficar enchendo a paciência dos ouvintes e em algumas circunstâncias até humilhar quem está na platéia. Com pequenas alterações a cena se desenvolve mais ou menos assim: o doutor sapiência chega diante do público e começa a fazer perguntas como se estivesse comandando um interrogatório. Geralmente inicia com um rápido comentário sobre o tema, para estabelecer contato mais próximo com o auditório e esclarecer sobre o assunto que será discutido, dizendo, por exemplo, vamos ver o que vocês entendem por marketing. Em seguida inicia a fase das execuções. Olha bem nos olhos da vítima sentada na primeira fileira e sem nenhuma sutileza formula a pergunta:
– O que é marketing para você?
O ouvinte, meio sem jeito, arrisca uma tímida resposta tentando se lembrar dos conceitos aprendidos na faculdade, ou em algum livro de administração para não administradores. O palestrante faz aquela cara de quem já esperava tamanho despreparo e sentencia: nãnaninanã, não é nada disso não. Volta-se para outro ouvinte sentado lá no fundo da sala e repete a mesma pergunta. E depois de ouvir a resposta, mais uma vez com ar quase impaciente, mas ao mesmo tempo triunfante, passa o mesmo veredicto. E assim, sem dó nem piedade vai executando vítima por vítima, que ali indefesas, constrangidas, diante de colegas da mesma empresa, ou da mesma profissão, sem ao menos ter chances de recorrer às cartas, às placas ou aos universitários, vão sucumbindo e se desmoralizando.

No final, depois de repetir meia dúzia de vezes a mesma pergunta, que são acompanhadas do mesmo número de respostas e de igual quantidade de nãnaninanãs , o algoz projeta uma colorida e sofisticada tela com o conceito que julga ser a melhor definição de marketing, que, na verdade, se for bem observada, não difere muito das respostas dos ouvintes que ele acabara de reprovar, como se provasse uma tese subentendida – vejam como tenho muito a ensinar.
Envolver os ouvintes para que possam participar da apresentação e se interessem pelo assunto é um recurso excepcional para o bom resultado de uma palestra. Entretanto, fazer perguntas à platéia apenas com o objetivo de mostrar que os ouvintes não conhecem o assunto e que terão muito a aprender com o palestrante, não acrescenta nada ao sucesso da apresentação, muito ao contrário, cria uma atmosfera negativa e pode tornar o público resistente.
Se você desejar interagir com os ouvintes fazendo perguntas, vá em frente, mas use uma tática diferente e muito mais vantajosa. Valorize qualquer informação que os ouvintes usem como resposta. Faça perguntas e aproveite a resposta adaptando-a ao conteúdo de sua mensagem. Vamos imaginar um exemplo bem exagerado. Suponha que depois de questionar a platéia alguém dissesse que marketing é uma venda no atacado. Até uma resposta absurda como essa poderia ser aproveitada para dar seqüência a sua palestra. É evidente que você não poderia elogiar a resposta, pois os ouvintes perceberiam a falta de sinceridade e sua credibilidade ficaria comprometida. Sem criticar o ouvinte, você poderia dizer que um dos recursos mais importantes para viabilizar vendas no atacado é uma política de marketing bem planejada. Você não estaria dizendo que a resposta está correta, mas o fato de continuar sua exposição a partir da informação do ouvinte iria respeitar a imagem e a posição dele diante das outras pessoas. Essa atitude simpática mostraria sua preocupação e respeito com a imagem das pessoas, motivaria os outros ouvintes a participar com respostas e sugestões e produziria um ambiente mais favorável e útil ao sucesso de sua apresentação.

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