Por Reinaldo Polito*

Quando cheguei em São Paulo há 32 anos encontrei aqui uma cidade assustadora, impondo-me desafios intransponíveis. Nessa época, só para que vocês compreendam bem minha situação, em Araraquara havia pouquíssimos prédios com mais de quatro ou cinco andares, e o que mais se destacava abrigava a Fábrica de Meias Lupo. De todos os pontos da cidade, por mais distante que alguém estivesse, era possível ver um dos relógios localizados no alto do edifício. Aqui em São Paulo, a todo momento, eu interrompia os passos e olhava para cima admirando o que era comum chamar naquela época de arranha-céus.Eu não me conformava em ver tantas pessoas estranhas sempre apressadas com aqueles olhos de quem olhava para frente sem ver nada. Esse não era o meu mundo, essa não era a minha cidade, essas pessoas não eram como os meus amigos.

Cheguei a arrumar as malas três vezes para retornar a minha querida Morada do sol. Mas, eu olhava para aquelas roupas dobradas e pensava: como é que eu vou chegar em Araraquara e dizer para  os meus amigos – hei, pessoal, voltei. Fracassei na minha aventura de viver em São Paulo. Só de imaginar essa cena eu ficava vermelho de vergonha. Por isso, fiquei e fui capaz de superar todas essas dificuldades iniciais.

Dia 1 de dezembro, realizei um sonho que jamais sonhei: recebi o título de cidadão paulistano. Foi um momento de grande emoção e muito choro. E foram esses mesmos conceitos que compartilho com você todas as semanas e que transmito aos meus alunos ao longo desses 27 anos que me permitiram conquistar esse reconhecimento. Mais uma vez a comunicação demonstrou sua força e importância e fez com que mais um araraquarense pudesse reencontrar o calor, a amizade o respeito de sua tão querida terra natal  em uma cidade de desafios complexos como São Paulo.