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25 abr 2024

Discursos de oradores de turma

Se você concluiu o curso superior, teve a chance de participar de pelo menos cinco formaturas ao longo da vida: no maternal e no jardim geralmente não fazem formaturas, mas, a partir daí, são feitas solenidades de conclusão de curso desde o prezinho até a faculdade. Deixemos de lado as formaturas do prezinho até o término do ensino fundamental porque, embora marcantes, são eventos que normalmente só contam com a presença dos parentes dos formandos. Vamos nos ater às formaturas do curso superior que, além dos parentes, contam também com a presença de outros convidados, como amigos e colegas de trabalho. Esses eventos, salvo raríssimas exceções, de maneira geral são muito chatos para a maioria dos presentes. É uma pena, porque há muita gente envolvida para que a solenidade seja um grande sucesso. As empresas especializadas em eventos de formatura, quando possuem experiência nessa atividade, conseguem montar um espetáculo com bom ritmo e uma dinâmica bastante atraente. A parte mais cansativa quase sempre fica por conta dos discursos. É evidente que quando falam, o orador da turma, o diretor, o paraninfo e o patrono estão interessados em cumprir bem seu papel e serem admirados por suas apresentações. Salvo o diretor e um ou outro paraninfo ou patrono, que quase sempre possuem mais experiência no uso da tribuna, a maioria não tem melhor desempenho porque nem sempre sabe exatamente como fazer e apresentar um bom discurso. Por isso, vamos verificar como os discursos de oradores de turma, que são as verdadeiras “estrelas” da festa, podem ser eficientes e mais interessantes. Como a educação continuada é uma obrigação na vida daqueles que pretendem continuar crescendo, você sempre terá chance de ser o orador de alguma turma, seja ela de MBA, Latu Sensu, ou qualquer curso que venha a realizar.

A duração do discurso

Um dos principais motivos que tiram o encanto dos discursos é a sua duração. Discursos longos, com 20, 30 minutos de duração, se transformam em verdadeiro martírio para o público. Se apenas uma pessoa discursasse, uma apresentação de até 10 ou 12 minutos seria suportável. Mas, com tanta gente usando a palavra o tempo precisa ser bastante reduzido. Embora algumas instituições determinem em seu regulamento o tempo máximo dos discursos, que variam de cinco a dez minutos, uma apresentação com começo meio e fim entre cinco e sete minutos estaria de bom tamanho. Discursos com essa duração não chegam a cansar a platéia e ajudam a dar mais ritmo à solenidade.

Não estou afirmando que discursos longos sejam necessariamente ruins. Há muitos que necessitam de dezenas de páginas de um livro para abrigá-los e são peças oratórias de qualidade excepcional. Entretanto, não combinam com a velocidade e a pressa dos dias de hoje.

Houve um tempo em que discursos longos faziam parte das solenidades de formatura. E, independentemente de serem cansativos ou não, eram recebidos com naturalidade. O mais famoso e também mais extraordinário de todos é “Oração aos moços” de Rui Barbosa. Já tive oportunidade de comentar em um de meus textos a história curiosa desse discurso.

Rui aceitou ser o paraninfo da turma de formandos de 1920 da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Entretanto, por estar muito doente, na época da solenidade ele não pôde comparecer. Por isso, dois dos formandos resolveram sair de São Paulo para buscar o discurso, que estava com o paraninfo na cidade de Petrópolis. Assim, no dia 29 de março de 1921 Reinaldo Porchat, diretor da faculdade, leu o discurso de Rui. É interessante o fato de um dos discursos mais bem produzidos em todos os tempos no Brasil não ter sido proferido pelo próprio autor.

Estou citando “Oração aos moços”, de Rui Barbosa, apenas para mostrar um exemplo de bom discurso, mas muito longo, e, por isso, provavelmente, inadequado para os dias de hoje.

Discurso do orador da turma

O orador da turma fala em nome dos formandos. É como se ele interpretasse em seu discurso a vontade e as aspirações da turma. Por isso, é importante que ele seja escolhido pelos colegas, de preferência em um concurso de oratória. Nessa disputa, cada formando poderá analisar não apenas o conteúdo do discurso, mas também a competência do orador. Embora o conteúdo seja extremamente importante, sugiro que num concurso de oratória se leve mais em conta a habilidade do orador em se apresentar em público. Desde que ele se comprometa a aceitar sugestões do grupo para melhorar o teor da mensagem, o resultado poderá ser positivo.

Mensagem de qualidade razoável pode ser aprimorada com a participação dos colegas. Entretanto, a falta de dotes oratórios dificilmente poderá ser resolvida pouco tempo antes da formatura.

O discurso do orador da turma deve ser lido. Primeiro porque essa técnica de apresentação da mensagem permite que o conteúdo escrito represente bem o desejo da turma. Depois, a não ser que o discurso fosse decorado (o que nunca é recomendável), é a única forma de cumprir o tempo estabelecido.

É cada vez mais comum as turmas escolherem dois oradores, um homem e uma mulher, para que leiam uma frase cada um. Essa participação simultânea dos dois oradores, quando bem ensaiada, dá um ótimo resultado, pois torna a apresentação mais leve e dinâmica. Se o orador for muito bom, nada impede que ele faça comentários de improviso, aproveitando informações que nasçam no próprio ambiente da formatura. Mas, só se ele se sentir bem à vontade e tiver certeza de que valerá a pena sair momentaneamente da mensagem preparada. Em caso de dúvida, nada de gracinhas arriscadas, é melhor seguir o que foi planejado.

O estilo de um discurso de orador de turma precisa ser arejado, solto e muito bem-humorado. Quanto mais alegre e divertido mais chance de sucesso terá. Esse estilo de discurso combina mais com as características de uma festa. O único cuidado é manter o limite do bom senso e não cair na vulgaridade.

Algumas informações que poderão participar do discurso:

-agradecimento às pessoas que compareceram à solenidade,

-agradecimento aos pais e parentes que contribuíram para aquele momento de conquista,

-agradecimento aos professores. Durante os agradecimentos aos professores cabem algumas brincadeiras, como imitações ou histórias que tenham marcado determinadas aulas ou o relacionamento com os alunos. Atenção, brincar não significa humilhar ou ridicularizar, pois esse comportamento poderá comprometer o brilho da festa e até a boa imagem do grupo. Portanto, tudo deve ser feito com bom gosto e na medida certa.

-Comentar sobre as expectativas que tinham ao chegar ao curso, sobre as amizades que fizeram e o quanto puderam aprender. Aqui também cabem algumas brincadeiras mencionando fatos curiosos ocorridos com os colegas.

-Comentar sobre a aplicação que o curso que estão concluindo terá no mercado de trabalho.

-Comentar, mesmo que bem superficialmente, sobre a realidade do país. É conveniente não entrar em considerações políticas por serem polêmicas e, por isso, descontentar alguns formandos ou parte da platéia. É sempre melhor falar de esperança e de possibilidade de realizações. Cabem também palavras de incentivo para que continuem estudando, aprendendo e se aperfeiçoando.

-O final deve ser emocionante. O orador deverá encontrar uma mensagem que possa surpreender a platéia pelo ineditismo, pelo humor ou pela emoção da mensagem.

Embora a fala deva ser entusiasmada e motivadora, não significa que deva ser na base da correria. É preciso saber usar bem as pausas. Ao encerrar um raciocínio a pausa ajudará a valorizar a informação transmitida, dará oportunidade para que os ouvintes reflitam sobre ela, e será um excelente indicador da naturalidade e do domínio do orador.

Uma leitura feita com a técnica apropriada poderá ser tão atraente quanto uma fala de improviso.

Para que a leitura seja bem feita siga as seguintes orientações:

Mantenha contato visual – Durante as pausas prolongadas e nos finais de frases, olhe para os ouvintes e demonstre com essa atitude que as informações estão sendo transmitidas para eles. Cuidado também para não olhar sempre para as mesmas pessoas. Distribua a comunicação visual olhando ora para um lado, ora para outro. Assim, todos se sentirão incluídos no ambiente. Para não se perder na leitura enquanto olha para os ouvintes, aqui vai uma boa dica: Marque a linha de leitura com o dedo polegar, pois ao voltar para o texto saberá exatamente onde parou.

Mantenha o papel na altura correta – Deixe a folha na parte superior do peito. A postura com o papel será mais elegante e bastará tirar os olhos do texto e já estará mantendo a comunicação visual com os ouvintes. Ao digitar o texto procure usar apenas os dois terços superiores da página, deixando o terço inferior em branco. Esse cuidado permitirá um contato visual mais tranqüilo e suave, já que para ver as pessoas bastará apenas levantar um pouco a cabeça e os olhos.

Modere na gesticulação – os gestos na leitura devem ser moderados. A não ser que a mensagem exija maior quantidade de movimentos, a leitura de uma página, de maneira geral, pode ser feita com três ou quatro gestos. É preferível fazer poucos gestos, que destaquem as informações mais relevantes com convicção e firmeza, do que demonstrar hesitação soltando repetidamente a mão do papel e retornando depressa para segurá-lo. Se você não se sentir à vontade para fazer os gestos, não se preocupe, será melhor continuar segurando a folha com as duas mãos.

Faça marcações – algumas pequenas marcações no texto facilitam a interpretação da mensagem. Você poderá usar traços verticais antes das palavras para indicar o momento de fazer pausas mais expressivas. Essas marcações não coincidirão necessariamente com a pontuação gramatical.

Algumas dicas importantes:

  Para facilitar a identificação de cifras misture números com palavras. Por exemplo, fica mais fácil ler 38 milhões, do que 38.000.000, ou trinta e oito milhões.

  Evite deixar frases incompletas no final da página para não ter que se apressar em procurar o complemento da informação na página seguinte. Termine a página com ponto final.

  Coloque números bem visíveis nas folhas e para facilitar o manuseio deixe-as soltas, sem clipes ou grampos.

  Use um corpo de letra de acordo com sua capacidade de enxergar. A tipologia minúscula de letras possui desenhos mais fáceis de ler do que a maiúscula. Por isso, a regra é usar corpo de letra grande com tipologia minúscula.

Se você costuma sentir tremores nas mãos, a saída é usar folhas de gramatura mais encorpada. Somente pelo fato de saber que com as folhas mais grossas os pequenos tremores não serão percebidos, você irá se comportar com mais tranqüilidade e, provavelmente, não tremerá.

Para ter o domínio da leitura e se sentir confortável com o texto, ensaie pelo menos umas 15 ou 20 vezes. Se por acaso você chegar a decorar o texto, cuidado para não se esquecer de olhar para o papel. Pelo menos finja que está lendo. Parecerá mais natural.

Essas precauções permitirão que você seja o orador da turma e se sair muito bem fazendo seu discurso diante da platéia. Os colegas ficarão felizes, você se sentirá realizado e o público agradecerá pelo bom espetáculo.

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