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18 abr 2024

Lula e a metáfora do churrasco

As notícias dos últimos tempos me deixaram perplexo. Mesmo quando a taxa de juros estava na estratosfera e o nível de desemprego ganhava a taça de campeão, havia mais gente criticando as analogias e as metáforas do Lula do que sua política governamental. E o pior de toda essa história é que a maioria dos críticos não conseguia explicar como é que o País indo tão mal podia ter na sua liderança um presidente com tanta popularidade. Alguns desses críticos, por simples preconceito, ou por não conhecerem absolutamente nada de comunicação passaram a taxar a maneira de falar do Lula de primária, ingênua e inconsistente. Só que na hora de explicar o fenômeno de como alguém que, segundo eles, se comunica tão mal consegue ter tanta aprovação popular, ficavam dando voltas tentando segurar o próprio rabo.
Meu negócio é ensinar comunicação e não discutir competências políticas, pelo menos não profissionalmente. Por isso, vou seguir a sugestão de Apeles e me ater aos sapatos, isto é, à análise da habilidade de comunicação do Lula, mesmo contrariando a ferocidade crítica de muitos desses comentaristas.

Lula se elegeu com impressionante respaldo da população brasileira e embora desenvolva uma política de governo com os pés no chão, tomando algumas vezes medidas impopulares, porque sabe que não existe mágica na arte de governar, pois o arcabouço de fatores que determinam ou não o progresso e bem-estar de um país é composto de detalhes que nem sempre são visíveis e controláveis, precisa também dar satisfação àqueles que o escolheram para (usando uma de suas metáforas) tocar esse barco com segurança rumo a um porto seguro.
Sabemos, e o Lula também, que a maioria da população brasileira é composta de pessoas com formação educacional deficiente e, portanto, com dificuldade para entender e acompanhar uma linha de raciocínio que seja muito complexa ou abstrata. Nessa circunstância, até as técnicas mais elementares de comunicação recomendam que o trabalho de interpretação e esclarecimento da mensagem deve ficar por conta de quem fala, isto é, não é uma tarefa que possa ser delegada aos ouvintes.

Quando as pessoas têm baixo nível intelectual, depois de apresentarmos nossos argumentos, se resolvermos levantar reflexões nós é que devemos ajudá-las a pensar expondo também as conclusões. O fato se modifica quando os ouvintes são bem preparados intelectualmente, pois eles não só saberão chegar sozinhos às conclusões, como também sentirão prazer em cumprir essa tarefa sem nenhum tipo de auxílio.
Ainda diante de pessoas com dificuldade de entendimento devemos selecionar os conceitos mais importantes e repeti-los várias vezes para que possam assimilá-los com maior facilidade.
E se desenvolvermos o nosso raciocínio com a ajuda de histórias, metáforas e analogias estaremos ajudando as pessoas a acompanhar sem esforços nossa mensagem. Aí é que entra a extraordinária competência de comunicação do Lula: ele sabe quais são as dificuldades que a população tem para entender o complexo contexto econômico e político do Brasil e procura, na maneira de falar, explicar a mensagem usando uma linguagem metafórica que todos possam entender.

Lógico que a elite intelectual fica com urticárias quando ouve as histórias que ele conta de gente apressada que ao chegar no churrasco enche a barriga de pão e maionese e já não tem fome na hora em que as carnes mais nobres ficam prontas – quando deseja explicar que se comporta mal quem age de forma precipitada. Mas, é essa comunicação que o povo entende e é com esse recurso que Lula vai mantendo a confiança das pessoas e consegue preservar sua popularidade, apesar de a situação do país não ir, às vezes, como todos nós desejamos e de os críticos julgarem sua forma de falar inconveniente para os elevadíssimos padrões desta camada intelectualizada da população, cujo percentual talvez não chegue a dois dígitos.

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