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04 abr 2018

Luxemburgo X Mano Menezes

Gosto de futebol. Segundo meus amigos de infância até cheguei a bater uma bolinha redonda. Tenho consciência, entretanto, de que se tivesse continuado me tornaria um jogador medíocre. Por causa da violência não assisto mais aos jogos no campo. A última vez que entrei num estádio fui levar minha mãe para assistir ao Palmeiras derrotar o Juventus por 4 a 1. Naquele jogo em que o goleiro Marcos machucou o ombro.

 

Poucas coisas me dão tanto prazer quanto assistir a uma partida de futebol com minha mãe, Lúcia, que está com mais de 80 anos. Xingamos o juiz, os bandeirinhas, os jogadores que perdem gols. Depois rimos das besteiras que dissemos no calor da emoção.

 

Ela acompanha tudo. Sabe quem joga, quem está machucado, suspenso, afastado por motivos técnicos.  Se não fosse por outro motivo, só essa alegria que o futebol dá a ela seria suficiente para eu gostar desse esporte.

 

Sou admirador de dois técnicos. Um que passei a gostar nos últimos tempos, Mano Menezes. Outro que considero o melhor técnico da história do futebol brasileiro, Wanderley Luxemburgo. Os dois sabem como montar um bom time usando os jogadores que têm em mãos. Conseguem alterar resultados explorando as qualidades do seu grupo e atacando os pontos vulneráveis do adversário.

 

Não se compara a carreira de um e do outro. Luxemburgo já conquistou praticamente tudo o que pode ser possível a um técnico. Acredito até que vencer um campeonato mundial e brilhar nos melhores clubes da Europa será apenas questão de tempo. Ele é jovem e tem muito caminho a trilhar. Mano começou há pouco a obter suas conquistas importantes.

 

Não é meu objetivo, portanto, comparar a competência dos dois treinadores, mas sim analisar a capacidade de se comunicar e de se relacionar de cada um deles. Mostrar como um comportamento temperamental cria antipatias e até ressentimentos. Enquanto o jeito equilibrado e sensato de se expressar dá condições de afastar conflitos e pressões com mais facilidade.

 

Não sou ingênuo nesse aspecto.  Sei que técnico vive de resultados. Se o time vencer, o treinador é gênio. Se perder, vira burro de um dia para outro. Pode ganhar todas as partidas, mas, se fracassar no jogo final e não conquistar o campeonato, todos os méritos são rapidamente esquecidos. Fica sempre mais fácil para a diretoria do clube trocar de técnico e acalmar os torcedores que acreditar na sequência de um bom projeto.

 

É tudo muito emocional. É como se não existisse distância entre o paraíso e o inferno. Um técnico pode entrar em campo aplaudido e sair vaiado, como se tivesse desaprendido a dirigir o time naquela partida. Boa parte da imprensa também embarca nessa emoção coletiva e chega a botar mais lenha na fogueira.

 

O que toda essa conversa tem a ver com a vida corporativa? Tudo. Sou presidente de uma ONG link www.viadeacesso.org.br que atua na capacitação de estudantes para ingressarem no mercado de trabalho. Nessa minha atividade voluntária constatei um fato impressionante: de maneira geral, as pessoas são contratadas pela competência e demitidas pelo comportamento.

 

Quebra de hierarquia, falta de pontualidade, formação de panelas, declarações indevidas são algumas atitudes que servem de motivo para demissão. Quando não perdem o emprego devido a esse comportamento inconveniente têm a carreira estagnada, sem condições de progredir.

 

Talvez aí resida a maior diferença entre Luxa e Mano. Enquanto o primeiro tem dificuldade para segurar seus ímpetos, discutindo com parcela da torcida, grupos de jornalistas e outros agentes do futebol, este último consegue se relacionar de maneira mais habilidosa. Luxemburgo não perde oportunidade para ressaltar seus próprios feitos. Mano é mais discreto quando fala de si mesmo.

 

Aqueles que se ressentem com os comentários agressivos ou destemperados nem sempre reagem de forma clara e explícita. Atacam com sutileza para disfarçar seu rancor, mas o suficiente para minar a imagem do desafeto. É um recurso perverso, pois posam de analistas imparciais, mas estão batendo de bico no tornozelo.

 

Uma das táticas é a de pôr a informação negativa no final da frase. Por exemplo: ele é um treinador muito competente, mas egocêntrico. Ele é um técnico vitorioso, mas está sempre arrumando encrenca. A mensagem mudaria de sentido se as frases fossem invertidas: ele é egocêntrico, mas um treinador muito competente.  Ele arruma encrenca, mas é um técnico vitorioso.

 

Colocar a informação negativa ou positiva no início ou no final da frase faz toda a diferença. O que leva torcedores, dirigentes e a imprensa a optar por uma forma ou outra é o comportamento e a maneira de se comunicar de Luxemburgo. Por causa de suas atitudes nem sempre simpáticas acaba batendo de frente e prejudicando sua imagem.

 

Mano Menezes é mais ponderado em seus pronunciamentos. Sabe como se comunicar para evitar conflitos. Esconde com sabedoria seu descontentamentohttp://economia.uol.com.br/planodecarreira/artigos/polito/2009/05/25/ult4385u112.jhtm. Quando, por exemplo, foi pressionado porque Ronaldo passara alguns jogos sem marcar gols e praticamente sem participar das partidas, mesmo estando em campo, o técnico corintiano foi magistral: Ronaldo precisa receber apenas quatro bolas durante a partida para fazer o resultado. Ponto.

 

Só para mostrar melhor como tudo é questão de comportamento. Luxemburgo é conhecido como “reclamão” por causa dos comentários que costuma fazer contra as arbitragens. Se você observar bem, talvez Mano até reclame mais que ele, mas terminado o jogo fica na dele, e quando critica não altera a voz e mantém o semblante sereno.

 

Na vida corporativa as relações interpessoais funcionam de maneira semelhante. Profissionais com destacada competência são às vezes preteridos por causa da forma como agem e se comunicam http://economia.uol.com.br/planodecarreira/artigos/polito/2007/10/22/ult4385u37.jhtm

 

Falta a alguns a habilidade diplomática para evitar confrontos desnecessários. Criticam ações de seus pares sem considerar os sentimentos, as aspirações, as carências, a insegurança de cada um deles. Contestam ideias sem levar em conta que por trás de projetos e propostas há profissionais que desejam preservar a imagem e garantir o sucesso de suas carreiras. Ao perceberem que suas ideias são atacadas costumam se defender como se recebessem uma agressão pessoal.

 

A maneira inteligente, sensata, equilibrada de se relacionar na vida, no ambiente corporativo em particular, pode, portanto, valer até mais que a competência profissional. São essas lições que podemos aprender ao observar a forma de se comportar de profissionais como Luxemburgo e Mano Menezes.

 

Portanto, conta muito para o sucesso da nossa carreira a forma como defendemos nossas posições, como reagimos nos momentos de pressão, como nos relacionamos com aqueles que nos são ou não simpáticos e como encontramos saídas para os diferentes problemas que somos obrigados a enfrentar com os assuntos associados às nossas atividades

 

 

 

Superdicas da semana:

– Ouça as entrevistas de Mano Menezes. Analise como agiria em seu lugar.

– Ouça as entrevistas de Luxemburgo. Analise como agiria em seu lugar.

– Aprenda a discordar sem magoar as pessoas http://economia.uol.com.br/planodecarreira/artigos/polito/2008/04/22/ult4385u61.jhtm

– Procure se colocar no lugar da pessoa com quem discute

 

 

Livros de minha autoria que tratam desse tema: “Como falar corretamente e sem inibições”, “Assim é que se fala”, “Oratória para advogados” e “Superdicas para falar bem”, publicados pela Editora Saraiva.

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