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03 jul 2018

Não se apaixone demais por um argumento

por Reinaldo Polito

Tive um colega de mestrado que conhecia profundamente as obras de Paul Valéry. E por dominar tão bem os temas tratados pelo autor gostava de citá-lo sempre que tinha oportunidade. No início todos nós achávamos interessante seu domínio sobre o estilo e os temas abordados pelo poeta francês. Entretanto, com o passar do tempo, ficou evidente que os colegas já não agüentavam mais ouvir falar em Paul Valéry. Ou seja, aquelas citações que haviam destacado nosso colega de classe acabaram por torná-lo um comunicador insuportável. Essa paixão excessiva pelo escritor o escravizou de tal maneira que todos os assuntos precisavam necessariamente passar por um trecho de uma das obras do autor que ele tanto admirava.
A paixão por uma causa, por uma idéia, por uma pessoa, se por um lado pode produzir energia, disposição, determinação, por outro pode também tornar a pessoa apaixonada escrava e dominada por este sentimento. Não é diferente com a comunicação, desde uma causa que você possa abraçar até à maneira de defender uma idéia ou um ponto de vista.
Ao defender uma idéia utilize com habilidade os argumentos que tiver à disposição, mas tome muito cuidado para não se apaixonar de forma demasiada por um deles. Se você exagerar no uso de um argumento para defender uma idéia, correrá o risco de repeti-lo tantas vezes que acabará por enfraquecê-lo.
Um bom argumento não precisará de muitas repetições para que possa ser notado, pois ao ser citado todos perceberão sua importância. No momento apropriado, se sentir necessidade de repeti-lo, procure usar palavras diferentes, como se estivesse analisando a idéia por um ângulo distinto.

Outro cuidado importante na exposição de um argumento forte e poderoso é o de prepará-lo adequadamente antes de ser apresentado. Deve ser como uma fruta pronta para ser colhida. Se for apanhada antes do tempo, estará verde e sem condições de ser consumida. Se, ao contrário, permanecer por tempo muito prolongado no pé e ficar madura demais, também não poderá mais ser aproveitada. E essa preparação não deverá ser apenas do argumento dentro da mensagem, mas principalmente com relação aos ouvintes, que precisarão estar prontos para recebê-lo no instante mais apropriado. Talvez fosse possível afirmar que tão importante quanto o peso de um argumento é o momento de apresentá-lo e a maneira moderada como será repetido.
A inteligência e a razão deverão prevalecer para que a ansiedade não ponha tudo a perder. Quando temos consciência da força e do poder do nosso argumento, a tendência é a de querer apresentá-lo o mais rápido possível para que nossa idéia seja vencedora. Entretanto, essa precipitação poderá fazer com que nossa causa seja prejudicada por ser defendida com a arma mais preciosa no momento indevido. E quando cometemos esse deslize somos impelidos a repeti-lo muitas vezes, como se quiséssemos mostrar aos ouvintes como estávamos apoiados por uma razão que eles não estavam conseguindo enxergar.
Fique atento e seja cuidadoso o tempo todo ao usar seu argumento mais forte. Apresente-o no instante mais adequado, para que os ouvintes possam apreciá-lo na sua plenitude e evite repeti-lo muitas vezes, para que não seja enfraquecido.
Esses e outros conceitos são desenvolvidos no curso de expressão verbal ministrado pelo Professor Reinaldo Polito.
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